Depoimento de uma mergulhadora
CACÁ FILIPPINI: 43 anos, é comunicadora engajada em temas ligados à saúde, bem-estar físico e mental.
Muitos de nós, vivemos grande parte de nossas vidas, no corre. O corre dos estudos. O corre do trabalho. O corre da vida adulta. E como resultado, a maioria de nós, vive de 5 a 6 dias por semana no automático, de olho só naquele dia de folga. Aí, quando vemos, já é dezembro. Já se passou mais um ano. Já estamos soprando velas e aumentando nossa idade, sem de fato, viver.
Ter um hobby é algo muito importante para o nosso bem-estar e qualidade de vida. “Hobby” é uma atividade que nos dá prazer e que fazemos de forma voluntária, sem pressão ou obrigações. Pode ser qualquer coisa que nos ajuda a relaxar e a aliviar o estresse do dia a dia. É aquela pausa na nossa rotina, onde podemos nos conectar com nós mesmos e com aquilo que nos traz alegria.
Não é segredo pra ninguém, que a prática esportiva é algo que me acompanha e que me faz bem. Recentemente, tive o prazer de voltar às profundezas do mar, através do mergulho autônomo com cilindro, conhecido mundialmente como “scuba diving”. Digo “voltar” porque havia uma restrição médica, devido à trombose que tive durante a Covid, que me afastou dos mergulhos.
Assim como na corrida, retomei também esse “hobby” exatamente de onde parei: uma viagem ao Arquipélago de Abrolhos, na Bahia.
Sim, mergulhar não é tão comum quanto a corrida. Talvez muitos pensem que nem é uma atividade acessível a todos – o que é um engano e ao longo desse texto, vou mostrar.
Mergulhar, é uma atividade que requer formação, treino e equipamentos (que podem ser locados). Mergulhar, é viver a sensação de liberdade e tranquilidade, em que somos envolvidos pela calma e pela beleza do ambiente subaquático.
A sensação de flutuar no meio da água e observar a vida marinha é simplesmente maravilhosa. É como entrar em um mundo totalmente novo, cheio de cores vibrantes e criaturas incríveis.
Cacá Filippini
O ano era 2015, mas me lembro como se fosse hoje, a felicidade que senti fazendo meu primeiro mergulho, chamado Batismo. Um mergulho em águas rasas (não mais do que 8 metros e sempre segurado por um instrutor. Mas esse foi um convite para mais. Passei a me interessar pelo assunto, fiz alguns cursos de formação e comecei a acumular mergulhos em diferentes locais.
Assim também foi com Antonio Dib, 50 anos, administrador de empresa, que se apaixonou pela experiência do Batismo na Ilha de Fernando de Noronha. E 21 dias depois, já era mergulhador autônomo.
Curioso que nos conhecemos poucos meses depois de sua formação, nos apaixonamos, casamo-nos e passamos a correr e mergulhar juntos.
Mas não somos os únicos que usamos a experiência de Batismo como porta de entrada para o mundo dos mergulhadores. A administradora, Mariana de Oliveira, de 35 anos, teve seu primeiro contato subaquático em Ko Tao, Tailândia. “A sensação de liberdade foi surreal e viciante!”, conta Mari, que acrescenta: “Durante a pandemia embarquei na jornada do autoconhecimento na astrologia e descobri que estar embaixo d´água me conecta com uma parte da minha personalidade, que a rotina e o estresse do mercado financeiro que atuo, me afastam… O mergulho na água salgada, combinado com viajar, recarrega as minhas energias e me faz feliz”
Por falar em terapia, o mergulho também pode ser uma quebra de paradigmas. Uma oferta para fazer algo que te tire do conforto. A administradora e veterinária, Julia Yukie Kojima, de 58 anos, decidiu com apoio de um profissional da área de saúde mental, a superar seu pânico de água. Em dezembro de 2022, deu seu primeiro passo ao certificar-se como mergulhadora autônoma em Angra dos Reis, RJ. “Tenho muitos medos e pânicos que quero superar e substituir por algo agradável. Por isso luto com essas sensações de ansiedade e medo, desafiando minhas limitações, tentando explorar novos horizontes.” – conta ela.
E foi através de uma nova experiência que a engenheira, Denise Canhas Dias, de 43 anos, começou a mergulhar em 2008. Com o objetivo de viajar para fazer um mochilão e mergulhar. Denise conta que curtiu tanto o esporte que não demorou para mudar de vida. “Durante um tempo foi possível conciliar o trabalho com o mergulho, mas quando descobri que a paixão pelo mergulho era maior que a vontade de ser engenheira, resolvi fazer a transição na minha carreira.”, conta Denise que atualmente é sócia-proprietária de uma escola de mergulho e atua como instrutora, formando novos mergulhadores. “Foi fácil? Não, não é até hoje, mas sou muito mais feliz do que dentro de um escritório.” – complementa a mergulhadora conhecida por suas roupas marcantes e seu estilo despachado de ser.
Denise é casada com Maurício Mendes, um engenheiro que também trocou o trabalho em uma montadora de veículos pelo mergulho.
Contudo, há também situações não planejadas que mexem com nossas vidas, nos apresentam novidades. Aos 24 anos, o mergulho não estava nos planos de Vitor de Mendonça Cinosi. No entanto, em meio à turbulência emocional, o mergulho foi sua distração e instrumento de crescimento pessoal. “A sensação de imersão nas águas tranquilas e a beleza inigualável do mundo subaquático foram um bálsamo na minha alma ferida. Além disso, o mergulho me presenteou com algo ainda mais precioso: a chance de conhecer pessoas incríveis.”
Fazer as pazes com a vida. Pós pandemia, pós burnout e depressão. Pós falência de um empreendimento. E pós morte do irmão por afogamento. Evelyn Vieira, de 37 anos, ressignificou às adversidades dos últimos anos no mergulho. A engenheira busca uma nova forma de vida, aproveitando cada segundo de vida. “Superar a morte do Thiago (seu irmão) é feita a cada descida, a cada respirada no fundo do mar. Sinto a presença dele em cada novo local que conheço, em cada ser vivo embaixo d´água, em cada raio de sol que visualizo no fundo do mar”.,
Ao contrário do que muita gente pensa, o mergulho tem essa particularidade de “acalmar” o mergulhador. Claro, que nem sempre o mar está pra peixes. O mergulho é um paradoxo da vida, com mares calmos e cristalinos, águas mexidas e turbulentas, dias de baixa visibilidade e temperaturas não tão confortáveis. Mas que como tudo, tem muito encanto e nos apaixona mesmo na adversidade.
Quem vê o contador de risada alta e jeito agitado de ser, não imagina que Fernando Regis, 50 anos, gosta da tranquilidade que o fundo do mar proporciona. “A sensação de estar embaixo d´água é indescritível. É como se nosso corpo estivesse sem peso, é como se voássemos.” Fernando começou a mergulhar porque desde criança, sempre gostou do mar. Ele conta que descobriu no mergulho, um novo mundo e uma dimensão diferente daquela que conhecemos. “É um ambiente onde tudo é diferente do que conhecemos.” – conclui ele.
E quando digo que o mergulho é para todos e todas as idades, não posso deixar de compartilhar a história da advogada aposentada, Janete Kiyoma Amioka, de 71 anos. Sim, 70+ e “Dive Master”, umas das formações mais altas para mergulhadores.
Conheci Janete em 2019, também por meio do mergulho. Naquele ano, ela se formava no curso básico. Fazíamos parte do mesmo grupo que tinha como objetivo, coletar lixo na Represa Jaguari-Jacareí em Bragança Paulista, interior paulista, como parte de um projeto mundial que envolve mergulhadores e o Meio Ambiente.
Confesso que nos demos bem de primeira e fiquei muito admirada com a forma que ela estava aberta a aprender e como se sentia parte do grupo. “Antes de mais nada, tenho que dizer que eu não tinha familiaridade nenhuma com o mar. Também não sei nadar. Fiz o curso para acompanhar minha filha em uma viagem com mergulhos.” – conta a advogada mergulhadora que mesmo tendo feito a primeira formação, tinha a certeza de que o mergulho não era pra ela.
Mas foi em Bonaire, que sua certeza mudou. Embora estivesse lá para conhecer a Ilha, estava em um grupo com apenas um interesse: mergulhar. Bastaram 5 dias, passeando nas profundezas do mar caribenho com auxílio de um instrutor, para se apaixonar e acumular, desde então, mais de 240 mergulhos pelo mundo.
Em suma, o mergulho autônomo com cilindro é uma atividade emocionante que traz benefícios físicos, mentais e emocionais. Através dessa prática, você pode explorar o mundo subaquático, desfrutar de momentos de tranquilidade, cuidar da saúde do corpo e da mente, além de desenvolver um maior senso de responsabilidade ambiental. Se você está em busca de aventura, descoberta e conexão com a natureza, o mergulho autônomo pode ser a atividade perfeita para você.
Imagens: Arquivo Pessoal/Cacá Fillipini
Matéria original/fonte: https://orbi.band.uol.com.br/colunistas/nosso-corre/vou-ali-mergulhar-e-ja-volto-7407